Tuesday, November 01, 2005

“Eu sei que Tu estás aí!” – Gritou o astrónomo sozinho no meio da noite. O frio entrava-lhe pelas mangas, o pescoço doía-lhe de tanto olhar para o céu. “Deus, eu sei que Tu estás aí. Dá-me um sinal da tua presença”. Mas mais uma vez ninguém respondeu.
- Sei que Tu estás aí, Deus Antigo, Deus Imenso – sussurrou o astrónomo. Sei que Te moves devagarinho enquanto as estrelas avançam, lentamente pela noite. Sei q estendes os teus braços por milhões de anos-luz até às galáxias distantes. Sei que és grande e que brincas com Saturno quando o escondes no horizonte. Sei que no teu jardim plantas constelações feitas de estrelas. Sei da lágrima que choras em cada estrela cadente. Sei que Tu és Antigo, mais Antigo que a própria Terra. Mais Antigo que esta Terra que piso e em que um dia hei-de morrer. Eu sei, mas dá-me um sinal da Tua presença.
Esperou. Mas mais uma vez ninguém respondeu. Durante 100 noites o astrónomo subia a esta colina. Durante 100 noites esperara ansiosamente um sinal, um sinal por mais pequeno que fosse de que estava certo e de que s seus colegas estavam errados. De que ele estava certo quando dizia haver um Deus maior do que tudo.(...) Pedia apenas um sinal para si, um sinal que lhe permitisse dormir em paz, apesar das gargalhadas dos outros. Mas passaram-se 100 dias e 100 noites e o sinal não veio.
Desistiu. Abandonou-se à brisa, a mesma brisa suave e fria que soprava desde a primeira noite e que tantas vezes o irritara por não o deixar concentrar-se.
- Olá! – disse uma voz jovem e descontraída.
- Boa noite. – Disse o astrónomo surpreendido. – Não te vi. Como chegaste aqui sem que te sentisse? Perdeste alguma ovelha?
- Estava a ver que te perdia a ti. – Respondeu a voz, a sorrir. – 100 vezes me pediste um sinal. Cem vezes te toquei com a minha brisa. Creio que hoje te preparavas para não voltar.
- Senhor, Meu Deus! Sois Vós.


[“O astrónomo e a brisa da noite” in O príncipe e a Lavadeira de Nuno Tavar de Lemos]

Num tom de princepizinho esta é uma das histórias mais magníficas que conheço. Porque Ele está no mais simples, só que às vezes não O conseguimos ver...

beijinhos

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